Páginas

sábado, 2 de abril de 2011

Tiago Santiago levanta questão perigosa em sua entrevista

Imagem do documentário 'Muito além do cidadão kane'
Nesse domingo vai ao ar uma entrevista com Thiago Santiago, autor da novela ‘Amor e Revolução’, no programa de Marília Gabriela, do SBT. Entre várias declarações interessantes, uma se desatacou: o escritor disse ter dado, há anos atrás, um projeto similar à Globo, um convite que a mesma dispensou.
Um tema muito polêmico vem a calhar - por que a Globo recusou fazer uma novela sobre a ditadura militar quando o autor ofereceu a sinopse?
O ano é 1965, ditadura militar implantada no Brasil e o povo confuso. A Globo fecha contrato com o grupo Time-Life, ganha 5 milhões (na época, um dinheiro absurdo) adere ao regime militar na deposição do governo constitucional de João Goulart. Os militares compreendem os benefícios de uma TV de alcance nacional que proclamassem seus “feitos” e prestam total apoio ao projeto de poder de Roberto Marinho. Enquanto pessoas eram torturadas e mortas nos porões da ditadura, a Rede Globo mostrava carnaval e festa num país bonito por natureza.
Vieram as reações populares à ditadura e a determinação do Império de se proceder, no Brasil, a uma “abertura lenta, gradual e segura” rumo à democracia. A Rede Globo apresentava uma cobertura exageradamente excêntrica durante a qual manifestações populares contra a ditadura eram apresentadas como “Festas Populares” em São Paulo e outros pontos do país. A ira estava lançada: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Mas será que foi tudo culpa da Globo? Será que o único jeito de começar uma nova rede de televisão não era, realmente, se filiar ao movimento militar?
Até hoje a emissora é acusada de ter financiado e dado espaço à ditadura, mas o que poucos sabem e muitos ignoram é o fato de já existir no Brasil uma série de outras emissoras: as Redes Tupi – que sairia do ar em 1980 – e a Excelsior – que teve o mesmo destino dez anos antes –, Record e Cultura, que estão no ar até hoje. Com exceção da segunda, todas as outras emissoras ajudaram o regime.
Todos fazem a ligação entre a Globo e a ditadura por que a emissora foi um caso à parte. Cinco anos após entrar no ar, já em 1970, era líder absoluta de audiência. A emissora dos Marinho conquistou o espaço deixado pela Excelsior e teve na sua programação algo inédito, criado por Walter Clark, o chamado sistema ‘sanduíche’ - onde entre duas novelas, já na época o estilo de programa mais popular, deveria haver um jornal, neste caso o Jornal Nacional - que entrou no ar em 1º de setembro de 1969.
Na época, o Jornal Nacional se tornara o ‘porta-voz’ da ditadura, mas isso só ocorreu por que a Globo decidiu criar um jornal para informar a população do que estava acontecendo no país. Se as outras emissoras tivessem pensado nisso antes, talvez carregassem o fado que a Globo tem até hoje: o de ter ficado contra o povo na época da ditadura.
Enfim, a população só vai olhar a Globo com uma visão pura quando a emissora matar a síndrome da ditadura militar. Não houve culpados, não há suspeitos e não há crime (pelo menos não existem condenados).
Enfim, o programa de Marília Gabriela vai ao ar nesse domingo, as 00h00.
Por: Breno Cunha

Colaboração – ‘Fazendo Mídia’ e ‘Cultura Brasil’
Esse texto não visa prejudicar ou ajudar nenhuma emissora ou parte em questão. Pauta-se apenas em fatos e questionamentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog